segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Miranda.

“A tarde embarca em seu retiro
O portal quadra como moldura
A musa de longo suspiro
Referência em vibração e postura”

Rege a dança tal a cartilha
Talvez foste mais branda
O castanho capilar entorpece à presilha
Quem estava lá, Miranda?

Meio-dia se aproxima e o desgaste recai
Na quente estrada, pedalas não andas
O paralelo vagaroso te contrai
Quem estava lá, Miranda?

Qual é a recordação que hiberna?
E despista o que jamais vai regressar?
A reação somente desperta e externa
O que soube realmente impactar

Opostos em moderada discordância 
Devido a esta origem una
Há eras e locais de distância
Onde a indecência puna

Cavalgadas coleciona
Sobre e rente à coxilha bonita
Brava herdeira amazona
Autêntica filha de Anita

Portando exímia valentia
Estiveste no vão entre os umbrais
Ao estresse desumano resistia
Apoiada à cantiga que não toca mais

O rodízio sem fim das estações
Saúda com fervor tua sobrevivência
Dama de palácios e galpões
Devota dos costumes da querência

Hoje alguém te reconhece
Pela mesma aura instigante 
Cisma quando amadurece
É uma tara quieta e gritante

A camiseta cortês ao vento a refrescar
O short que livra as pernas morenas
Já não há viração que possa despachar
Repetições tão vigorosas e amenas

Recepções e redes sociais
Hoje alguém entra no ringue
Por teus contatos passionais 
Por um romance que vingue

Miranda é...
Soma que transcende quantidade
Matéria e espírito em lua de mel
Ação imediata aos pés da ansiedade
Jogo limpo de vítima e réu

Se um caso é um “descuido”
Outro casal é igual pecador
Nos quatro circula o mesmo fluido
Isento de atuar como promotor

Confissões servas do que não virá
Infiéis a um esboço de perfeição
A névoa em segredo partirá
Expondo o fracasso sem contenção

Improvável não haver nenhum gesto
Nada que reúna o que há de sensível
Imprevisto e independente manifesto
Frenético e convincente cercando o irresistível

Hormônios veranistas vêm e vão
Se famintos acabam estagnados
Hoje alguém ora em comunhão
Com seus nervos desafogados

Quem tanto ensaiou lhe aparecer
Entrou no salão, formosa e inusitada
O óbvio se fez resgatar e crescer
Ela é só uma parente afastada

Mesmo por réstias de ti
Uma cartada alegaria perigo
“Salvo” e sem cobrar de si
Hoje alguém interage contigo

“Descansam em qualquer galeria 
Artes ligadas à estima 
Mas o ápice da maestria
É ser tão obra quanto prima”


Samuel Garcia
Piratini, 12/11/2018

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