quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Estranho Querer.

Escrito em suas regras e combinados
Ou no rodapé de um livro qualquer
“Quando perfurarem agulhas e machados
O sangue se refugiará como puder”

Intensidade é outra melodia
A carne além de irracional é sensível
Entrega seus contos de soberania
Mas um farelo de inocência é inadmissível

A enésima fantasia nasce da ausência de pudor
A nudez é a linguagem do desejo
Há um forte vínculo protetor
Além de paisagens e beijos

Aos quatro cantos venerações
Livres de falsas verdades
Por toques, apertos e puxões
Os carrascos da castidade

Chega a ilusão mais real e dolorida
Querer ser o bastante na terra dos insuficientes
Provar que com o que se quer pra toda vida
Triunfamos sobre fenômenos em torrentes

Não é a diversão e os seus meios
Tampouco o impulso vencido
O controle dos anseios
Diante de um prato servido
(Instinto natural, desafiador e primitivo)

Poderoso, escondido e variável
O detalhe determinante da singularidade
Sabe-se que tem laços com o improvável
E vê com maus olhos a intencionalidade

A monotonia é perita em convencer
Expulsa devagar toda forma de esperança
Anuncia que a utopia prometida a florescer
Aguardará novo enredo e aliança

Juramentos de união pela eternidade
Comoventes se não fossem inválidos
Egos corados ultrapassam a realidade
Atravessam ficções e já estão pálidos

O agora é menos que o nada
Em um plano atemporal
Apenas o ar que vigia a madrugada
Destrói o que não tinha final

Temer pela própria capacidade
É a questão mais assombrosa
Todo ser tem uma vaidade
Em constante polvorosa

Estranho querer
Ter um mundo pra arriscar
Inútil é saber ler
Mas não interpretar


Samuel Garcia
Piratini, 14/12/2017