quinta-feira, 1 de março de 2018

Aquele por Quem se tem Amor.

"5 voltas no calendário
A casa jaz organizada
A campainha anuncia o calvário
Fere toda infância imaculada"

Cacos de tua impaciência
Recolhi em uma tarde na varanda
Aqui, valeu minha prudência
O destino não sugere, ele demanda

Pedaços de teu querer bem
Coletei na mesa de jantar
Tradição sagrada que vem
Na forma de um filho pra visitar

Porções de tua nem tão cansada imagem
Juntei no berço da consciência
Ignorante da nunca ausente contagem
Que espreita e alcança nossa existência

Na camisa de leve marrom
Cada listra é um paralelo
Acompanha o decidido som
Do juiz e seu martelo

Percorri metros com determinação
Pois incumbiste a mim teu recado
O gracioso futebol na televisão
Requeria um amigo ao lado

Beirando a inexpressão
Desapareceu aquela imponência
A estranheza veio sem precaução
Apesar da escassa convivência

Fecharam-se teus olhos pr'esse mundo
A reflexão reinou sufocante
A perda é vítima do mesmo segundo
Que busca o choro transbordante

A lágrima era uma conhecida
Mas trouxe algo a mais consigo
Uma angústia jamais sentida
Que anula qualquer birra e castigo

Então as nuvens traem o sol
Então os espinhos povoam a roseira
Queria a isca sem anzol
E um poema na cabeceira

"Ó, aquele por quem se tem amor
Dedilha tua mais bela canção
Encilha teu dia mais sonhador
Que aí o impossível é uma fração"

Dedicada ao avô, Amado e a todos que vieram antes
Samuel Garcia
Piratini, 01/03/2018