terça-feira, 30 de julho de 2013

O que o vento traz... (Parte 1)

Querida Helena,

            Não fazes ideia do frio que percorre estas terras, o vento é cruel, sinto às vezes como se estivesse me arrancando o rosto. Quem dera arrancasse a saudade, mas ela está muito bem protegida. Apesar de a saudade me assombrar, o tempo está favorável, pois consigo esquecer as lembranças por alguns instantes, mas tão pouca coisa já basta para tudo voltar à tona...
            Outrora, a noite era um castigo, agora nem tanto...
            Aprendi alguns truques com o passar dos anos, como lidar com os mesmos sonhos todas as vezes que minha cabeça repousa ao travesseiro, todas as vezes que os cílios guardam meu olho atento, temeroso e relutante em descansar.
            No sonho, nos vejo triunfantes e sorridentes pelos verdes gramados. Tua voz mais delicada que o suave cantar da harpa dourada, teu sorriso que provém das estrelas, teu cabelo moreno, liso e esvoaçante como as ondas violentas que atormentam o sereno mar, e o teu vestido rosa dançando ao sopro do vento.
            E o que me aflige nas tortuosas madrugadas é que não posso pegar da tua mão, não posso provar o sabor dos teus lábios risonhos, não posso driblar a distância que nos torna submissos, não posso alimentar meu amor há muito faminto por ti.
            Profano martírio...! Minha vida só não terminou porque em algum lugar bem escondido neste coração maltratado resta um cisco de esperança, uma aurora que te trará junto com ela e então tu nunca mais partirás dos braços meus.
            Parece utopia, mas confio em mim ao ponto de esquecer o possível e o impossível deste mundo e deste amor...
            Espero que me escrevas, minha amada. São tantos anos sem saber de ti, que após te enviar esta carta estou ansioso pela tua resposta e até mesmo nervoso, por não ter nenhuma noção de como os anos te trataram, se tens outro amor e já me esqueceu ou se sofres com essa mesma saudade.
            Do homem que te ama e pra sempre vai te amar, Orlando.


Samuel Garcia
Piratini, 18/07/2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

365 Dias.

Sim, lá se foram 365 dias
Desde que o diferente em mim habitou
Uma inspiração assim que surgia
Um conceito que assim mudou

O valor que eu recusava a conhecer
Batia na porta e ninguém o vinha atender
Já pensou em ir embora
Procurando me encontrar lá fora

Eu que tanto fui chamado
Mas em momento algum ouvi
Agora bem aqui desse lado
Vejo coisas que antes nunca vi

O ano que passou num relance
Se concentrou em ser veloz
O ano que me trouxe a poesia
Fez de mim e ela, nós

Dedicada ao meu primeiro ano como escritor
Samuel Garcia
Piratini, 19/07/2013

domingo, 14 de julho de 2013

O Segredo dos Olhos.

Há quem diga, eu sei
Que o olhar inocente é o que mais cintila
Dentre seu âmago faz morada o descontraído
Uma força que impele o amado e o traído
Até os domínios da impiedosa solidão
Onde o frio espreita pelo poente
Onde não germina a saudável semente
Ao toque do sol que afaga

Mistérios que jamais serão expostos
A junção do guardar e o revelar
Dois viajantes sem destino
Em uma jornada pelo qualquer
Enfrentando o que puder

Alcançam o acaso na cumplicidade
Afloram o sentimento dormente
Temor que estremece monotonias
Em um espaço povoado por regalias
Se desejarem a essência de uma vida reavivar
Levam a si próprios à viagens temporais
Erguendo das cinzas relíquias despojadas
Dádivas que em um momento foram adoradas

Estrelas que desertaram do céu
Os adornos dos delírios apaixonantes
Que despertam lágrimas soluçantes
Nas fantasias do poeta sonhador
Que com seu bravo espírito encara a renomada saudade

Mestres e servos da persuasão
Que a piedade reivindica
Na fraca justiça do acusador
Refém do cauteloso torpor
Já nem sabe o que é ser enfeitiçado
A magia se passa por lucidez
Mas não pode lutar assim tão pequenez
Perante o feitiço irreal

Lá onde vive a ternura
Que desarma o coração ressentido
Nestas toadas de encantos proibidos
Nasceu o estrondo assim que morreu
Por entre vales, o eco e o silêncio

E quanto a mim?
As suas influências são claras
Como os outros me falha a firmeza
Sou peão, sou presa
Ali entre o belo e o horrendo
De repente me vou desfazendo
Dos passados que não consolaram
Dos beijos que não molharam

O que desafia os tais prazeres
Sempre engolidos pela mais rude arrogância
O que desafia quaisquer poderes
Os deuses da vontade humana
O que vence todas as batalhas

É a mão do amor a te tocar
É a voz do céu a te chamar
É o pássaro na manhã à assoviar
Que faz suas visitas passageiras
Ao conforto das aroeiras

É a dor que não deixa transparecer
É a sombra, dona do anoitecer
É o destino que corre sem se perder
Na floresta escura e selvagem
Escapando em meio à folhagem

Foi dito, eu sei
Que os olhos são guardiões da alma
Irmãos ou amantes?
Algo que ninguém nunca descobrirá
O segredo por todos os séculos permanecerá
E bem-aventurado quem os conhece
Em uma realidade onde o muito vive
E o pouco agradece


Samuel Garcia
Piratini, 14/07/2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

De 1.000 em 1.000 Inspirações.

"Ela anda por entre a penumbra sorrateira
 Ela viaja confiante na própria consciência
 Ela revive recordações já vividas
 Ela desvenda segredos da plena existência
 Ela tenta abrir as portas de um futuro
 Todavia, um certo passado há muito as trancou
 Agora segue os passos de alguém
 O destino que a ela coroou..."

Pensativa, nem percebes quando
As palavras na folha se põem a dançar
Contente estás a beber os versos
Que a inspiração veio te presentear

Ainda que os tempos sejam difíceis
O teu sorriso sincero se faz
És inabalável, menina poetisa
Pra ti é proibido olhar para trás

"Só cansa quem avança
E só avança quem se esforça"
Fatos quase esquecidos
Porém, tua inquietação os reforça

Que os anos não enfraqueçam
Tua confiante bravura
Pelo meu ver atrevo a afirmar que
Além do infinito perdura

Vive dos teus sonhos
Vive destes ideais
Abraça com carinho
Teus versos tão leais

Desejo a ti, guria
Todas aquelas maravilhas
Tudo que já dizias
Nas tuas amadas filhas

Desejo-te, guria
Que o teu pensar seja florido
De mil em mil inspirações
Para fazer do teu mundo o mais colorido

Dedicada à Carine Moreira
Samuel Garcia
Piratini, 02/07/2013