sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Inconstante.

Mas deixe-me lidar sozinho
Com a inconstância dominadora
É bem-vindo o sincero carinho
Dessa alma moradora

Sem compaixão, sem troca
Tanta coisa me diz adeus
O sempre cessou e o nunca ainda sopra
Amor e ódio nos ouvidos meus

Nada surge diante do meu olhar
Nem os versos dos poemas que decorei
A promessa de um dia sonhar
Pouco importa no que me tornarei

Não prendo-me ao apego
De chorar pelo que não vivi
Se encontro em mim o aconchego
É supérfluo o que esqueci

Sem viver dias contados
Larguei mão da minha constância
Agora vejo motivos quebrados
Como frágeis brinquedos na infância

Finjo procurar no colo das manhãs
Um ímpeto proveitoso
Mas não preciso de vontades vãs
Para ferir o que antes foi doloroso

Homem de conceitos era eu
Ganhei as mentiras e até as verdades
Exigi o que ninguém prometeu
E ainda assim não lembrei das possibilidades

Agora tudo foi profanado
Foram-se as glórias após o sono bom
Tudo que consegui foi reconquistado
Sei a cantiga mas perdi o tom

Basta uma existência jogada nas sombras
Dos vencedores e dos vencidos
Sou inconstante e não abro meus olhos
Para pedaços de sonhos proibidos


Samuel Garcia
Piratini, 30/08/2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que o vento traz... (Parte 3)

Querida Helena,

                Entre os mais belos devaneios jamais imaginei que pudesse existir uma euforia que derramasse pelos cantos do coração, uma força avassaladora que o preenche e o afoga de idealizações belas e pobres, como aquele passado que agora nos observa nas nossas rotinas, nas nossas casas, nos nossos quartos, nos nossos sonhos. Um passado que viaja livre sobre a distância, eternamente contra este amor. Diga-me, Helena, o que fizemos para com nós, ela ser tão cruel?
                Estou feliz, pois o passado nos vigiou e é certo que está guardando todos nossos sonhos para um dia reuni-los e fazer da memória, o momento.
                Há muito não vivencio o amor, teu sinônimo... é como se só tu fosse a autêntica mulher, a mulher em sua mais perfeita forma, a mulher que interpreta a linguagem do coração que a ama dominado por desejo, a mulher que estende o braço pedindo ajuda para encarar os problemas de um mundo tão bandido, a serena mulher que a cada dia é amada mais e mais. Nas ruas, vejo mulheres tão perdidas, tão vazias, tão humanas...
                Ontem à tardinha, peguei meu violão, que, assim como tu, jazia calado e distante dos meus dedos. Trabalhei alguns acordes mas aquela prática de outrora me fugiu, seguirei praticando pois agora acredito que posso suportar tocar as nossas canções sem teu sorriso, sem teu olhar, sem tua voz... sabes como é, coisas que me guiavam.
                Todas as noites sussurro teu nome antes de dormir, só pra não perder o costume...


                                                                                                                        Do sempre teu, Orlando.


Samuel Garcia
Piratini, 26/08/2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Espelho.

Tão pouco resta
Para alguém tomar as palavras
Exatas mas ainda incertas
Que sabem provocar a quietude
Serena e solitária
Por onde andas tu?
Se teus refúgios estão abaixo do meu ser
Hei tuas doutrinas aprender?

O que eu quero
Não difere do abrigo dos clamores
Imponentes sobre os mais fortes
Decadentes sob os mais fracos
Que rejuvenesce a velha raiz há muito fincada
E a névoa que ronda o chão da sua morada

O que eles querem
É mais uma vez ressaltar
Que suas vozes movem mundos
Como responsáveis de infindos segundos
Juram que tudo é moldado
Paladares ineficientes que não sentem
O gosto insalubre do pecado

Não imagino o que iria ignorar
Se os trovões não ouvissem minhas preces
Se a majestosa estrela não emprestasse
A compaixão dos olhares simples
E se nas juras relutantes, minh’alma jogasse
Pelo esquecimento a perdição que me seduz

Este silêncio em conluio com a solidão
Muitos princípios me ensina
Tenho a meu lado o espelho
Que sabe pensar, agir e sentir
Gratificante que alguém comigo desfrute
Deste pensar pedindo a mim que lute

Inútil! Não está ao meu alcance
Eles não ouvem, tampouco se deixam ouvir
Se ainda fosse falta de escolha
Mas sempre têm aonde ir
Te quero, te procuro tanto
Ó amável quietude
Nada posso fazer ao outro que não te quer
Mas prometo estar onde tu estiver


Samuel Garcia
Piratini, 14/08/2013

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O que o vento traz... (Parte 2)

 Amado Orlando,

 O frio que percorre tuas terras é o mesmo frio que castiga meu coração. Não sabes o quanto tento que ele volte à temperatura normal ou ao menos que dê um intervalo. O frio às vezes se iguala a dor e, por aqui, esse é o único significado. Já a saudade... Ah, ela é muitas vezes mais complexa do que tudo. Enquanto muitos perguntam como o planeta foi criado ou como chegamos até aqui, há apenas uma questão que nunca deixa de atormentar-me. Por que a saudade é o único mal que não se acaba? Por que quando ela nos encontra a vida muda e jamais se torna como antes? Saudade é prisão e eu ainda não descobri como livrar-me dela...
  Todas as palavras desta carta fluem como perguntas. O tempo rouba-me o que usurpei do mesmo há algum tempo; as perguntas sempre estarão em tudo o que há e no que há de haver. Em minha velha juventude a fé tem raízes feitas de fortalezas cotidianas; então Orlando, se eu pedir à cartomante que me traga você em três dias, ela conseguirá? Ou se implorar aos céus que te tragam para meus braços, os anjos atenderão minhas súplicas ternas de amor? E as lágrimas, aquelas que tu dizias serem tão doces, voltarão ao sabor de mar um dia?
 Se demorei em escrever-lhe, desculpe-me! A inspiração tem falhado por esses dias. Não que isto seja de todo ruim. Qualquer um precisa de tempo às vezes... Mas, por aqui, o tempo tem pregado peças. Indo-se rápido demais, sem que alguém note. Eu falo a eles, falo a todos; explico e argumento “Está passando... Tá indo sem que possamos ver! Tudo está mudando.” Ninguém escuta.
 Por isso decidi responder-te. Relembrar o passado também faz parte da vida... E tu és quase metade da minha.
                                  

                                                      De quem só pensa em ti, Helena.


Maikele Farias
Blumenau, 30/07/2013

sábado, 3 de agosto de 2013

Vestígios (Ódio de Mim).

Desculpa se não te falei
Da escuridão que me encurrala
Nas manhãs abençoadas e felizes
Tudo que eu desejei negar
Assim que tua figura não mais me fascinava
Senti ódio de mim...

Tu que sempre só pedias
Passou agora a ordenar
Eu que sempre te respondias
Vou embora sem me explicar

E o que deveria ser eterno me abandona sem remorso
Nos abraços não recebo aquele calor
Lábios antes doces agora são frios e amargos
Ah! As duras palavras que ferem meu peito
“De ti, restará um homem incapaz de recordar
Dos motivos que o levaram a amar”

É tão estranho
Mas me sinto bem longe de ti
Em algum lugar tua lágrima
Escorre pelo rosto lentamente

Pois em todos os finais de um grande amor
Nenhum se equipara a este
A chuva silencia aos poucos
Até não restar gota sequer
A alegria tem seu rumo
Mas insiste em seguir por uma direção qualquer
A imensidão de um formoso céu
Deu a vez à essa eterna noite sem luar

Desculpa mas não falo
Nem mesmo bobos vestígios banais
Os quais pensei confiar a ti
Queria os achar mas nem os perdi...

Desculpa mas não dá
Sei que meu rosto
Em teus pensamentos ainda vive
Diria que pra sempre viverá
Mas se ao lembrar que estive
A adorar-te tanto
Como te explicaria o soluço do pranto?

E vivo sem amar, sem querer
Procuro apagar, sem sofrer
Intolerável crime de amor
Sentenças que não paguei
Desculpas que não falei


Samuel Garcia
Piratini, 03/08/2013