terça-feira, 6 de agosto de 2013

O que o vento traz... (Parte 2)

 Amado Orlando,

 O frio que percorre tuas terras é o mesmo frio que castiga meu coração. Não sabes o quanto tento que ele volte à temperatura normal ou ao menos que dê um intervalo. O frio às vezes se iguala a dor e, por aqui, esse é o único significado. Já a saudade... Ah, ela é muitas vezes mais complexa do que tudo. Enquanto muitos perguntam como o planeta foi criado ou como chegamos até aqui, há apenas uma questão que nunca deixa de atormentar-me. Por que a saudade é o único mal que não se acaba? Por que quando ela nos encontra a vida muda e jamais se torna como antes? Saudade é prisão e eu ainda não descobri como livrar-me dela...
  Todas as palavras desta carta fluem como perguntas. O tempo rouba-me o que usurpei do mesmo há algum tempo; as perguntas sempre estarão em tudo o que há e no que há de haver. Em minha velha juventude a fé tem raízes feitas de fortalezas cotidianas; então Orlando, se eu pedir à cartomante que me traga você em três dias, ela conseguirá? Ou se implorar aos céus que te tragam para meus braços, os anjos atenderão minhas súplicas ternas de amor? E as lágrimas, aquelas que tu dizias serem tão doces, voltarão ao sabor de mar um dia?
 Se demorei em escrever-lhe, desculpe-me! A inspiração tem falhado por esses dias. Não que isto seja de todo ruim. Qualquer um precisa de tempo às vezes... Mas, por aqui, o tempo tem pregado peças. Indo-se rápido demais, sem que alguém note. Eu falo a eles, falo a todos; explico e argumento “Está passando... Tá indo sem que possamos ver! Tudo está mudando.” Ninguém escuta.
 Por isso decidi responder-te. Relembrar o passado também faz parte da vida... E tu és quase metade da minha.
                                  

                                                      De quem só pensa em ti, Helena.


Maikele Farias
Blumenau, 30/07/2013

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