quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A Segunda Voz.

"O sagrado punhal do insulto
Repousa na bainha da ignorância
A cada aurora um novo culto
Prega sensacionalismo e discrepância"

Ó, lâmina da ofensa
Abençoado fio de presunção
Orienta esta dividida crença
Entre demérito e gratidão

Querendo o sabor da proeza
Pedi a conversão de todos meus feitos mundanos
Em retorno lhe ofereci uma presa
Para teus rituais profanos

Prostrei a oferenda no altar
A concepção alheia foi o meu recomeço
Como um mandamento a me nortear
Nada seria além do que mereço

Confuso sinal, claro recado
As vertigens não eram em vão
Ao menos preferia ter evitado
A ferocidade desta solidão

Hesitar é verbo de instantes
Logo o punhal segurei
A ambição nos diz que o relevante
Sempre joga duas caras e uma lei

Perdi os olhos no corte a sangrar
Um misto de êxtase e ceticismo
Longínquo foi apadrinhar
Todo um protagonismo

Velada a segunda voz
Golpeei sem amortecer
O astral do infeliz só
É pálpebra a se estender

O bobo da corte diverte
Porém travesso este não é mais
Tão estranho, tão inerte
Trocou circos por tribunais

Ó, lâmina da ofensa
Separa poder de pudera
Derrota a desavença
Quem internamente opera

Respingos de integridade caíram esporádicos
Correram pela língua à espreita
Evidência de inúmeros métodos sádicos
Empregados sob tua receita

No calar dos protestos
Altos drinques de consolidação
Outros tantos indigestos
Já descartam oposição

O percurso da conquista
Destaca-se no mapa das decisões
Mas essa bagagem otimista
Distorce desvios e direções

A inflada pompa guarnece
O meu fingir fragilizado
O conhecimento adormece
Em um cativo martirizado

Valia que não foi prioridade
Repenso o que é ser repleto
Entre os discursos de idoneidade
Cantar falácias era o predileto

O orgulho sufoca com ironia
Ponho em pé quem derrubei
Não interessa a hipocrisia
Preciso provar que avancei

Do limbo eis a segunda voz
Sou grato a toda compaixão
Filia-se à trégua o algoz
E a audiência exige explicação

Ó, lâmina da ofensa
Abençoado fio de presunção
Orienta esta dividida crença
Entre demérito e gratidão

"Existe sangue transparente como água..."


Samuel Garcia
Piratini, 26/09/2018

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