sábado, 8 de fevereiro de 2014

O que o vento traz... (Parte 6)

Amado Orlando,
  Tarde demais.
 Sobrepus ideias e valores. Cavei fundo na alma para encontrar-me. Encontrar a ti.
 Quantos prós e contras nos afastam? Quantas amarguras continuam preservadas? Quanto tempo a chuva ainda irá tentar apagar as pegadas que deixamos no caminho até aqui?
 Criei coragem e levantei os olhos pra ver as gotas cristalinas. Voltei à infância e surrupiei um ‘bem-me-quer’ para saber se tu ainda me querias. Fiz isso pelo resto da semana e, só agora, que foi mais “mal” do que “bem”. Logo hoje...  
 Quando éramos jovens escutávamos uma música que falava sobre como a chuva representa o estado do nosso corpo; estávamos certos em achar alguma veracidade no que o cantor nos contava. Não sou um corpo. Talvez nem metade de um. O ar que respiro é irrelevante, pois dentro de mim não há o que se complete.
 Na última vez que te olhei nos olhos não via nada que pudesse me fazer mudar. Tu sempre achaste a mudança desnecessária, como se continuássemos no molde ao qual nascemos. Que glória existe em continuarmos os mesmos?

                       De quem guarda as palavras bonitas só para ti, Helena.



Maikele Farias
Porto Alegre, 2014


Nenhum comentário:

Postar um comentário