sábado, 12 de julho de 2014

O que o vento traz... (Parte 8)

Amado Orlando,


        Perdão pela demora. Ando doente... Não te preocupes meu bem, hão de ser apenas prejuízos de espírito. Esclareço-te: minha visão desgasta-se a cada segundo, os ouvidos andam ruins; parece-me que bebi quarenta anos com água e açúcar. Sinto que meus escritos tornaram-se eternas quedas sobre penhascos, constantes suicídios bruscos. A dor só não me tomou a mente, pois ela mesma preencheu-se de mais fiel inveja.

       Por que a inspiração que pousa por sobre os ombros de vários, como mais delicada amiga, age com mesquinharia quando se trata de minha pessoa? Pois, como as estrofes que doam harmonia a tantos, a mim simplesmente ajuntam desassossego?

       Logo virá o futuro e tu estarás aqui?

       Separação é apenas uma palavra que se torna irrelevante se soubermos viver sua antônima. Não há distância que separe almas ligadas, mas será que essas são as nossas? Ainda há o que esperar de nós, Orlando?

       Estamos perdidos nesse oceano de questionamentos em que só fazemos nos afogar. E o senso comum nos diz que nos agarrarmos um no outro fará com que afundemos. Em algum momento teremos que desistir. Temos nadado tanto para chegar a lugar algum... Estou cansada demais e já não me importa se morrerei em alto-mar ou na praia. Diga-me: tu gostarias de viver afogado em si ou morrer transbordando em nós?


                     De quem vive a te esperar, Helena.

Maikele Farias,
Porto Alegre, 12/07/2014

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