Amado Orlando,
O frio que percorre tuas terras é o mesmo frio
que castiga meu coração. Não sabes o quanto tento que ele volte à temperatura
normal ou ao menos que dê um intervalo. O frio às vezes se iguala a dor e, por
aqui, esse é o único significado. Já a saudade... Ah, ela é muitas vezes mais
complexa do que tudo. Enquanto muitos perguntam como o planeta foi criado ou
como chegamos até aqui, há apenas uma questão que nunca deixa de atormentar-me.
Por que a saudade é o único mal que não se acaba? Por que quando ela nos
encontra a vida muda e jamais se torna como antes? Saudade é prisão e eu ainda
não descobri como livrar-me dela...
Todas as palavras desta carta fluem como
perguntas. O tempo rouba-me o que usurpei do mesmo há algum tempo; as perguntas
sempre estarão em tudo o que há e no que há de haver. Em minha velha juventude
a fé tem raízes feitas de fortalezas cotidianas; então Orlando, se eu pedir à
cartomante que me traga você em três dias, ela conseguirá? Ou se implorar aos
céus que te tragam para meus braços, os anjos atenderão minhas súplicas ternas
de amor? E as lágrimas, aquelas que tu dizias serem tão doces, voltarão ao
sabor de mar um dia?
Se demorei em escrever-lhe, desculpe-me! A
inspiração tem falhado por esses dias. Não que isto seja de todo ruim. Qualquer
um precisa de tempo às vezes... Mas, por aqui, o tempo tem pregado peças.
Indo-se rápido demais, sem que alguém note. Eu falo a eles, falo a todos;
explico e argumento “Está passando... Tá indo sem que possamos ver! Tudo está
mudando.” Ninguém escuta.
Por isso decidi responder-te. Relembrar o
passado também faz parte da vida... E tu és quase metade da minha.
De quem só pensa em ti, Helena.
Maikele Farias
Blumenau, 30/07/2013
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