Querida
Helena,
Não fazes ideia do frio que percorre
estas terras, o vento é cruel, sinto às vezes como se estivesse me arrancando o
rosto. Quem dera arrancasse a saudade, mas ela está muito bem protegida. Apesar
de a saudade me assombrar, o tempo está favorável, pois consigo esquecer as
lembranças por alguns instantes, mas tão pouca coisa já basta para tudo voltar
à tona...
Outrora, a noite era um castigo, agora
nem tanto...
Aprendi alguns truques com o passar
dos anos, como lidar com os mesmos sonhos todas as vezes que minha cabeça
repousa ao travesseiro, todas as vezes que os cílios guardam meu olho atento,
temeroso e relutante em descansar.
No sonho, nos vejo triunfantes e
sorridentes pelos verdes gramados. Tua voz mais delicada que o suave cantar da
harpa dourada, teu sorriso que provém das estrelas, teu cabelo moreno, liso e
esvoaçante como as ondas violentas que atormentam o sereno mar, e o teu vestido
rosa dançando ao sopro do vento.
E o que me aflige nas tortuosas madrugadas
é que não posso pegar da tua mão, não posso provar o sabor dos teus lábios
risonhos, não posso driblar a distância que nos torna submissos, não posso
alimentar meu amor há muito faminto por ti.
Profano martírio...! Minha vida só
não terminou porque em algum lugar bem escondido neste coração maltratado resta
um cisco de esperança, uma aurora que te trará junto com ela e então tu nunca
mais partirás dos braços meus.
Parece utopia, mas confio em mim ao
ponto de esquecer o possível e o impossível deste mundo e deste amor...
Espero que me escrevas, minha amada.
São tantos anos sem saber de ti, que após te enviar esta carta estou ansioso
pela tua resposta e até mesmo nervoso, por não ter nenhuma noção de como os
anos te trataram, se tens outro amor e já me esqueceu ou se sofres com essa
mesma saudade.
Do homem que te ama e pra sempre vai
te amar, Orlando.
Samuel Garcia
Piratini, 18/07/2013
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