sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O que o vento traz... (Parte 9)

Querida Helena,

            Creio que a nossa união está cada vez mais ofuscada. Minha visão já perdeu o foco, talvez pelas lágrimas que tanto derramei. Felizmente, há algo que nada poderá apagar e sabes do que estou falando. Mas já esqueci do teu rosto, teu sorriso, teu corpo. O amor sempre lembra mais dos atos do que das formas. Agora o motivo disto seria a distância ou as promessas não cumpridas que há muitas luas cobram tanto de nós?
            De que vale esta existência vazia? Para mim, a cada dia que nasce é um passo mais perto da morte... Do que vale ter esperança contra a vontade do destino? Do que vale buscar a luz no reino das sombras?
            Eu sei que palavras jamais vão descrever quaisquer sentimentos, mas acredito que já senti tudo o que tinha para sentir. Achas mesmo, Helena, que a dor pode vir a ser maior? Pra ser sincero, eu nem me importo. Agora nada faz diferença mesmo.
            Ando sempre tão sozinho, não procuro a ninguém e ninguém me procura... Até prefiro assim, meus pensamentos e opiniões sempre foram meus melhores amigos...
            Estive a um tempo sem te escrever por culpa de um pesadelo. Perdido na escuridão o que eu ouvia era uma voz distante me dizendo que jamais voltarei a te ver e o melhor a fazer era ir até ela. Acordei angustiado e fiquei sem dormir por três dias, pois tremia em apenas pensar na possibilidade de sonhar isto novamente.
            Saudade há tempos não é sentimento, é uma parte de mim. Estou muito fraco, por isso, Helena, se eu optar por seguir aquela voz distante, poderás me perdoar?
De quem te ama até o fim
Ainda que ele esteja próximo...
Orlando.


Samuel Garcia
Piratini, 07/11/2014

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