Querida Helena,
Te digo
que está certa... Sei daquelas palavras que uma vez pronunciei, porém a
separação nos desperta para novos pensamentos, novas opiniões, novas realidades
e novos sentimentos. Nossa alma já perdeu há muito tempo os últimos rastros que
tínhamos da união que uma vez concordamos em caracterizá-la como “inseparável”
na mais perfeita e bela seriedade.
Teve
dias em que eu sorria ao lembrar do que a vida poderia nos reservar. Éramos tão
jovens, tão iguais... enfim, essa lágrima que derramo neste exato momento me
traz tantas coisas: dor, incerteza, saudade e ódio. Ódio? Sim, ódio pelo quão
tolo e inocente fui, ao crer que um amor como esse fosse mais resistente do que
qualquer barreira. Poderia jurar que seria uma história de final feliz: sem
choros, sem abandono, sem traições, somente nós dois.
Agora
entendo todas as vezes em que tu ficavas a te perguntar sobre o futuro como se
estivesse pressentindo ou temendo algo terrível, enquanto eu tremia só em ouvir
teus questionamentos. Mas não te culpo, minh’amada. Foste mais realista que eu,
agora sei que realismo e pessimismo são tão distintos quanto ouro e prata. Se
pensasse como tu, provavelmente não sofreria tanto quanto sofro, mas já está
tarde, tarde pra mim...
Numa
noite recente, sentado no banco da praça, observava um casal e seu bebê. A
palavra “família” me faz muito mal. Sofri em silêncio...
Esqueça
as pétalas, suas vozes não são maiores que a minha... Te amo pra sempre...
De quem vive por ti, Orlando.
Samuel Garcia
Piratini, 16/02/2014
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