Amado Orlando,
Afoguei-me no que
deixei de lhe dizer.
Sobre estar cansada
era algo que eu pensava conhecer bem. O cansaço da alma... Mas ontem, quando o
tempo nublou em um momento inoportuno, o clima esfriou e o vento soprou levando
consigo minha coragem. Fiquei com medo.
Existe uma linha
tênue entre o medo e o desespero, contudo, logo após um minuto de reflexão, o
tom desesperador soou como os sinos da igreja em meus ouvidos. Agudo e forte.
Um som que rodeava tudo e que não deixou-me dormir. Encolhi-me por entre os
lençóis, travesseiros e almofadas, mas nada cura. Nada curou.
Quando deixei de
ver-lhe havia um preenchimento absurdo em mim. A esperança transbordava
deixando-me encontrar a missão que tanto procurei. Foi por ela que percorri
caminhos desconhecidos. Foi por um lugar, pela perseguição da calma que corri
tanto tempo.
Bem, e hoje?
Não sobrou um pingo
de realismo colorido. O vento de otimismo perdeu-se entre campos desconhecidos
e nunca mais se manifestou para mim. Tentei pensar, convencer-me de que a falta
da luz diante essa escuridão nada tem a ver com tua partida, mas quando
escreve-me, quando lembra-me do que tínhamos o coração revive e... Todo dia,
toda a noite quando povoa meus sonhos sou novamente tua.
De quem não te esquece, Helena.
Maikele Farias
Blumenau, 2013
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